terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Quantas sabedes amar amigo...

                

Quantas sabedes amar amigo
treides comig'a lo mar de Vigo
     e banhar-nos-emos nas ondas.

Quantas sabedes amar amado
treides comig'a lo mar levado
     e banhar-nos-emos nas ondas.

Treides comig'a lo mar de Vigo
e veeremo-lo meu amigo
     e banhar-nos-emos nas ondas.

Treides comig'a lo mar levado
e veeremo-lo meu amado
     e banhar-nos-emos nas ondas.

 Por Martim Codax

Veja que ̩ uma estrutura simples, tudo se repete. Era uma can̤̣o para ser guardada mesmo, muito simples. Portugal tem muito analfabeto at̩ hoje e, naquela ̩poca at̩ os reis, nem todos mas, muitos reis eram analfabetos. Quem sabia escrever era a mulher - de certa nobreza porque ṇo tinham nada o que fazer, ficavam em casa, algumas at̩ se davam ao luxo de aprender a escrever, liam, etc. e, em geral os religiosos, os padres... claro que tinha pessoas muito cultas, estudiosos, havia universidades Рṇo logo no come̤o, a universidade em Lisboa de Coimbra ̩ do fim do s̩c. XII.
A Galícia, que é uma parte da Espanha (são três: Galícia, Catalunha e o resto da Espanha). Até hoje há diferenças na língua, o Castelhano que veio de Castela que era apenas um reinado no centro da Espanha, mas por causa da expansão política do reinado com o reinado de Leão de Aragão, vai se expandindo. Mas essa região da Galícia fica meio a parte com a língua galega, bem diferente do castelhano. Pode-se dizer que o galego é mais próximo da língua portuguesa do que o castelhano. Então em relação com a LP, o galego é mais próximo, em segundo o castelhano e depois o catalão. Nessa época, na verdade, Portugal não existia e, era uma língua só, uma cultura propriamente única, tanto que esse poema é da literatura portuguesa mas, Vigo atualmente é localizada na Espanha.  E, ficou a referência a esta cidade, esse autor (Martim Codax) que sempre fala em Vigo, que é a terra dele. Vemos nessa cantiga o galaico-português – daí a nossa dificuldade de entender plenamente. Comentando a cantiga:
Amigo – é o que hoje entendemos como namorado. Lembremos que amar e amigo têm o mesmo radical. Venha comigo ao mar de Vigoque na época deveria ser famoso como Caraguá. Mar levado – levado é um mar encapelado, com certas ondas... É o mar que é levado. Mas você já começa a por malícia aí e a perceber que não era apenas o mar propriamente que era levado – era o amigo também. Veja que levado está rimando com amado, o amigo de Vigo. Na verdade o mar de Vigo é levado, mas aqui nós vemos pelo princípio da melopeia (as palavras ‘amado’ e ‘levado’ se ligam pelo som e devem se ligar pelo sentido). Ele não vai namorar para olhar as ondas mas, entrar nas ondas do mar e nadar junto. Terminamos a função Metalinguística. Função Poética – a construção do poema: Numerando: 1 – 1’ ... diferente na forma (significante), mas igual no conteúdo (significado). Este tipo de cantiga se chama Cantiga Paralelística – temos o paralelo da 1ª estrofe com a 2ª... depois começa um novo paralelo – indefinidamente (?). Podemos pensar naquelas célebres canções de desafio, que é herança de Portugal. Uma pessoa lhe diz algo, retoma e multiplica. Outra pessoa devolve e fica nisso indefinidamente.  É um exemplo de cantiga chamada de Cantiga de Amigo.
As cantigas dessa época eram: de Amigo, de Amor ou de Escárnio e Maldizer.
Cantiga de Amigo – ‘de’ significa a respeito de... é a moça que fala sobre o seu amado. Sempre predominará a Função Emotiva. ‘Quantas sabedes...’ Função Conativa, mas nesse destinatário o remetente está incluído. Ela pensa: ‘elas vão compreender a minha paixão amorosa e vão comigo ao mar de Vigo porque eu sozinha não posso ir, preciso de alguém para despistar – antes acontecia isso- vamos comigo que minha mãe deixa ir. Em geral é a mulher falando do amigo que não veio, marcou um encontro e não apareceu, que não liga mais pra ela, que é ingrato...

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