treides comig'a lo mar de Vigo
e banhar-nos-emos nas ondas.
Quantas sabedes amar amado
treides comig'a lo mar levado
e banhar-nos-emos nas ondas.
Treides comig'a lo mar de Vigo
e veeremo-lo meu amigo
e banhar-nos-emos nas ondas.
Treides comig'a lo mar levado
e veeremo-lo meu amado
e banhar-nos-emos nas ondas.
Por Martim Codax
Veja que é uma estrutura simples, tudo se repete. Era uma canção para ser guardada mesmo, muito simples. Portugal tem muito analfabeto até hoje e, naquela época até os reis, nem todos mas, muitos reis eram analfabetos. Quem sabia escrever era a mulher - de certa nobreza porque não tinham nada o que fazer, ficavam em casa, algumas até se davam ao luxo de aprender a escrever, liam, etc. e, em geral os religiosos, os padres... claro que tinha pessoas muito cultas, estudiosos, havia universidades – não logo no começo, a universidade em Lisboa de Coimbra é do fim do séc. XII.

Amigo – é o que
hoje entendemos como namorado. Lembremos que amar e amigo têm o mesmo radical. Venha comigo ao
mar de Vigo – que na época
deveria ser famoso como Caraguá. Mar levado – levado é um mar encapelado, com
certas ondas... É o mar que é levado. Mas você já começa a por malícia aí e a
perceber que não era apenas o mar propriamente que era levado – era o amigo
também. Veja que levado está rimando com amado, o amigo de Vigo. Na verdade o
mar de Vigo é levado, mas aqui nós vemos pelo princípio da melopeia (as palavras ‘amado’ e ‘levado’ se ligam pelo som e
devem se ligar pelo sentido). Ele não vai namorar para olhar as ondas
mas, entrar nas ondas do mar e nadar junto. Terminamos a função
Metalinguística. Função Poética – a construção do poema: Numerando: 1 – 1’ ...
diferente na forma (significante), mas igual no conteúdo (significado).
Este tipo de cantiga se chama Cantiga Paralelística
– temos o paralelo da 1ª estrofe com a 2ª... depois começa um novo
paralelo – indefinidamente (?). Podemos pensar naquelas célebres canções de
desafio, que é herança de Portugal. Uma pessoa lhe diz algo, retoma e
multiplica. Outra pessoa devolve e fica nisso indefinidamente. É um exemplo de cantiga chamada de Cantiga de
Amigo.
As cantigas dessa época eram: de Amigo,
de Amor
ou de Escárnio
e Maldizer.
Cantiga de Amigo – ‘de’ significa a respeito de...
é a moça que fala sobre o seu amado. Sempre predominará a Função Emotiva.
‘Quantas sabedes...’ Função Conativa, mas nesse destinatário o remetente está
incluído. Ela pensa: ‘elas vão compreender a minha paixão amorosa e vão comigo
ao mar de Vigo porque eu sozinha não posso ir, preciso de alguém para despistar
– antes acontecia isso- vamos comigo que minha mãe deixa ir. Em geral é a
mulher falando do amigo que não veio, marcou um encontro e não apareceu, que
não liga mais pra ela, que é ingrato...
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